Muitas pessoas têm a tendência para adiar decisões que lhe são importantes: adiam o início de uma dieta, o conserto do carro, a procura de um emprego melhor, o fim de um relacionamento que não dá mais certo, o início de um tratamento.
O hábito de adiar, muitas vezes, cria problemas e, talvez, o maior deles seja o sentimento de culpa ou angústia que provoca.
Alguns indivíduos só conseguem agir quando surge uma pressão externa, por exemplo, ficam esperando que alguém lhes dê uma orientação ou que uma situação vinda de fora deles precipite a decisão, esperam por um “empurrão”, o que os isenta de se confrontarem com a contradição, o medo e a dúvida no momento de tomar uma atitude.
Adiar é uma forma de evitar o conflito, é esperar que o próprio tempo possa trazer uma resposta.
Sem dúvida alguma, existem decisões na vida que devem ser muito bem trabalhadas antes de serem assumidas, isto é, devem ocorrer de dentro para fora.
Porém, no outro extremo, estão as pessoas que se acomodam e que, para não lidarem com suas dificuldades emocionais, deixam como está para verem como é que fica. Aqui vale lembrar Geraldo Vandré em sua canção: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Quando se adia uma decisão, a pessoa acaba duvidando de si mesma. Embora reconheça que precisa tomar uma iniciativa, foge ou evita o confronto com ela.
Todos nós sabemos que os propósitos que não se concretizam provocam autodesvalorização, trazendo um sentimento de incapacidade.
As atitudes de um indivíduo sempre falam mais alto do que suas palavras, pois nelas o inconsciente se manifesta de forma mais pura.
Aqui está a grande diferença entre o querer e o desejar, já que o primeiro é algo que diz respeito ao pensamento lógico e consciente, enquanto que o último implica num ato que vai além das palavras e persiste.
Muitas vezes, a pessoa utiliza-se do seu discurso lógico e consciente para enganar a si própria, mascarando sua verdadeira intenção.
A maneira de se lidar com as metas, os compromissos, planos de mudança, projetos de vida revelam o modo como uma pessoa se vê, pois é impossível separar aquilo que ela pode fazer daquilo que ela pensa que é.
Mas, como agir quando aparece um sentimento de impotência diante das próprias decisões a serem tomadas? É claro que não existem caminhos prontos para serem seguidos, nem o processo psicanalítico os aponta. O caminho se faz na medida em que se caminha em direção ao conhecimento de si próprio.
Seriam os ganhos sempre imediatos? Seriam as perdas realmente “perdas”? Nem sempre é fácil mexer no que está estabelecido, cristalizado, estipulado.
Para se tomar determinadas atitudes, muitas vezes, é necessário cutucar verdades profundas que, antes de trazerem alívio, podem provocar desconforto. Isso, porém, faz parte do processo de descoberta de si, já que o desconhecimento produz um sofrimento ainda maior, chegando, em muitos casos, à beira do insuportável.
De forma análoga, não é nada fácil reformar uma casa. Mas será que é possível usufruir dos benefícios e do bem-estar proporcionado pela mudança sem antes passar pela desordem e pelo desconforto?
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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