A culpa é um tipo de angústia, uma sensação acompanhada de sentimentos de inadequação e mal-estar. Seu sentimento esboça o contorno de muitas ações humanas. “Sentir-se culpado” e “provocar culpa” nos outros são mecanismos que costumam ocorrer com certa frequência nas relações entre pais e filhos, marido e mulher, namorados e amigos.

Na verdade, a culpa está intimamente ligada à nossa vivência e história de vida, sendo atualizada na vida adulta. Uma pessoa pode se utilizar dela para controlar ou manipular os outros. Porém, pode também recorrer a ela como uma maneira de “se torturar”, o que é, quase sempre, um mecanismo inconsciente.

O indivíduo cujos sentimentos de culpa foram vivenciados durante  a infância, por exemplo, tende a julgar-se culpado sempre que surge uma dificuldade em seu cotidiano. Ele tem uma tendência a se culpar por cada coisa que lhe acontece, sentindo-se como se tivesse feito algo errado. Suas atitudes revelam uma ânsia em reparar alguma coisa. É como se estivesse sempre em falta com os outros, querendo então poupá-los, agradá-los, pensando pouco em si mesmo. Motivações inconscientes estão por trás de sua sensação de “devedor” diante da vida, o que faz com que ele se menospreze e se desvalorize.

A culpa inconsciente determina uma espécie de “necessidade de castigo”, que pode se revelar de várias formas, como, por exemplo, na sensação de derrota sentida no trabalho ou nos fracassos que se repetem no relacionamento amoroso.

Pessoas com sentimentos de culpa mal resolvidos têm dificuldade de desfrutar da alegria e da felicidade, pois isso lhes parece ameaçador. É como se algo trágico pudesse acontecer. Elas querem ser felizes, porém um grande e indefinido medo surge quando chegam perto do bem-estar. Ficam assustadas, pois não se veem merecedoras da felicidade. O que pode ocorrer então é que, sem querer, provocam o mal-estar.

Por outro lado, existem aqueles indivíduos que são “mestres” em provocar culpa e, com esse “jogo”, tentam impedir o outro de reparar o que fez. No fundo, querem ficar com sua dor, pois “tiram a casquinha” cada vez que a ferida está sarando, para que o outro veja o mal que lhe causou.

“Provocar culpa” ou “sentir-se culpado” pode se transformar num jogo complicado e sutil, e nele ninguém consegue se sentir satisfeito. Torna-se necessário entender onde ele começou, como se estabeleceu e quais as motivações inconscientes a que serve.

Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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