São muitas as pessoas que manifestam sua ansiedade através de um mal-estar orgânico. A mente angustiada pode fazer seu protesto por meio do corpo. Ao contrário do que se costuma pensar, o sintoma muitas vezes é “efeito” e não “causa” do sofrimento. Alguns parecem “pedir” para serem interpretados e compreendidos. É sempre muito importante saber em que momento da vida o sintoma apareceu, pois este geralmente se instala na trilha aberta pelo sofrimento emocional.
Freud, em seus estudos iniciais com as “histéricas”, concluiu que o corpo é regido pelas leis da palavra. Ele percebeu que algumas doenças servem para impedir que o recalcado (inconsciente) chegue à consciência. Quando a inquietação da pessoa se concentra num determinado ponto, ela deixa de enxergar os limites mais amplos de sua angústia. É a forma que a mente encontra para tentar se defender.
De maneira inconsciente, o indivíduo busca refúgio na doença psicossomática para proteger-se de si mesmo, das contradições de sua vida, das amarguras da sua alma. O corpo tenta falar, a seu modo, e muitas vezes ele é a única possibilidade de comunicação do sujeito. Jacques Lacan afirma que “o corpo se deixa escrever algo da ordem de hieróglifos, que ainda não podemos ler.” Diante disso, nós, psicanalistas, nos perguntamos: o que há de não comunicável nas palavras que fica inscrito nele?
Sabemos que as tensões e os dramas que não são expressos verbalmente podem ser vividos como mal-estar corporal. Podemos notar hoje que um laço extremamente profundo une a linguagem do homem ao seu corpo. Então pode surgir uma doença para exprimir o que, muitas vezes, permanece inconfessável. Essa doença faz sofrer porque é um enigma. Como disse Freud, sofremos porque somos estranhos a nós mesmos.
Num tratamento psicanalítico, gradativamente, pode-se desfazer o enigma. O analista só tem um meio, a palavra do paciente, que vai ser “simbolizada” na medida em que se resgata a sua história de vida. Em muitos casos, só o acesso à palavra pode afastar o indivíduo de uma angústia vivida como mal-estar físico. Dessa forma, verdades e desejos inconscientes afloram e são gradativamente “desentocados”, elaborados, identificados, enfim, reconhecidos.
Acredito que sempre que um sintoma se manifesta no corpo é da maior importância procurar um médico. Ele pode detectar o mal prescrevendo o tratamento adequado, e, na grande maioria das vezes, com sucesso. Refiro-me aqui apenas àqueles sintomas físicos que não são curados, “apesar dos remédios”.
Porém, mesmo quando a psicanálise é indicada, ela só pode trazer benefícios se a pessoa aceitar falar de si e permitir ser questionada, pois “sarar” é também se confrontar com as verdades inconscientes.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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