No poema “Amor e seu tempo”, o poeta Carlos Drummond de Andrade afirma que “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde”. Em outras palavras, não há ciência explicativa do amor. É algo que não se aprende em manuais prescritivos. Nem segue as regras da razão. Como diz Ana Suy, em seu livro “Amor, Desejo e Psicanálise, “percebemos que o amor está no campo do não saber, visto que aquele que ama, o faz por razões desconhecidas”. Drummond diz que o amor “começa tarde” e é “privilégio dos maduros”. A expressão “tarde” pode também dizer outra coisa não restrita ao tempo cronológico. Não se ama apenas após os 50 ou 60 anos. Seria triste se assim fosse. Idade avançada por si só não garante o amor. O amor pode começar tarde – em qualquer idade – porque é comum os amantes investirem tempo demasiado em tentativas fracassadas de regulamentá-lo. Ficam reféns do ‘amor’ como posse, idealizado como lugar de completude, sem furos, sem falta, sem diferenças. Insistem na ideia de que é possível uma comunicação plena na vida a dois. É o não querer saber do limite. Lacan ao dizer que “não há relação sexual” evidencia essa impossibilidade. Para Alain Badiou, “No amor é que o sujeito vai além dele mesmo, além do narcisismo. O encontro amoroso é isso: você sai em busca do outro para fazê-lo existir com você, tal como ele é”. Amor é aposta, é risco, é invenção. Como diz Drummond, é “o ganho não previsto”.
Dagmar Silva Pinto de Castro
Clovis Pinto de Castro