Filho de costureira, passei boa parte da minha infância debaixo de uma mesa de modelagem brincando com retalhos de panos e jornais usados nos moldes. De vez em quando, escutava parte das conversas entre as freguesas e a minha mãe. Algumas, chegavam com páginas marcadas nas revistas de moda para mostrar o que queriam. Comumente, escolhiam roupas idênticas às das fotos das mulheres famosas daquela época. Por mais talentosa, criativa e profissional que fosse a minha mãe, o resultado nem sempre agradava a todas. As medidas de cada uma não coincidiam com o que estava na ordem do imaginário projetado nas fotos.
Quem busca uma análise deve estar advertido que o analista não é o “molde” e nem lhe oferecerá uma roupa pronta para vestir. Entre o corte do analista e a costura das palavras, alinhavando os significantes e, de deslocamento em deslocamento, caberá a cada analisante concluir que as roupas e etiquetas usadas para se dizer já não lhe servem mais. Em sua singularidade, como autor-costureiro, saberá que sua vida não cabe mais nos moldes das ilusões imaginárias.
Clovis Pinto de Castro