O excesso de ciúme pode acabar com qualquer relacionamento, e só quem o sente na pele sabe o grande sofrimento e tortura que causa.
Um pouco de ciúme pode ser considerado um tempero na relação a dois, funcionando como poderoso afrodisíaco capaz de manter a motivação para a conquista.
Nas situações de ameaça, pode indicar uma necessidade natural de preservação do vínculo e relação de cuidado. Nesse caso, ele faz parte do “quem ama cuida” e, dessa forma, procura proteger o indivíduo dos riscos da perda e da sensação de ser excluído.
Porém, em algumas pessoas, o ciúme ultrapassa os limites da normalidade, fazendo com que a angústia chegue a um nível insuportável.
Emoções fortes e primitivas, como ódio, inveja, medo, vergonha e culpa, atormentam os pensamentos do ciumento e causam enorme ansiedade.
Roland Barthes, em sua obra “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, traduziu esse mal-estar: “Como ciumento sofro quatro vezes – porque me reprovo por sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade, sofro por ser excluído; por ser agressivo; por ser louco; por ser comum.”
Na realidade, a linha divisória entre o ciúme normal e o doentio é bastante tênue. Há os que veem traição em tudo; os que fingem não enxergar; os que desconfiam do outro porque também desejam trair; e os que foram traídos e ficaram abalados demais.
Nós psicanalistas acreditamos que o ciúme patológico, no qual as reações são impulsivas e violentas, tem raízes na infância, na história afetiva das relações da pessoa com seus pais e irmãos.
Também o ciúme que atormenta o adulto tem sua base na infância. Ressentimentos, angústia, sensação de abandono, ferimento narcísico reaparecem em razão das necessidades básicas de reconhecimento não terem sido devidamente preenchidas.
Esses sentimentos de amor e ódio mal resolvidos vêm à tona com toda a intensidade nos relacionamentos amorosos. O medo de perder o objeto amado nem sempre é racional, pois está ligado às fantasias inconscientes da criança que esse adulto foi, tendo origem no Complexo de Édipo e na dinâmica familiar.
O ciúme está ligado à baixa estima e ao medo, que pode até ser insano, de perder o controle sobre o amor da outra pessoa. O ciumento possui uma autoimagem debilitada, fragmentada e deformada . Por isso teme sempre ser traído e abandonado. Essas sensações de posse, desespero e desamparo tornam a pessoa agressiva, já que vai acumulando hostilidade em sua mente.
O ciúme não trabalhado costuma causar danos ao psiquismo. Muitas vezes, o que era “desconfiança” dá lugar a uma “certeza” imaginária, boicotando qualquer possibilidade de realização amorosa.
O ciúme excessivo e incontrolável é sinal de alerta, indica que algo não está bem e que a pessoa necessita buscar ajuda especializada. A psicanálise propõe o resgate da historia de vida e, com ela, a transformação na maneira de amar.
No tratamento, a pessoa vai aos poucos descobrindo como ela se vê e como, ao longo de sua vida, foi se formando a imagem tão desvalorizada que tem si mesmo.
Dessa forma, poderá reconstruir seu próprio eu. Porém, para isso, é necessário disposição e coragem para olhar seu mundo interno.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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