O reconhecimento de nossas emoções e a identificação dos nossos sentimentos e desejos constituem fatores de extrema importância para o equilíbrio psíquico. É através da expressão de nossas emoções que vivemos a vida, e não apenas “passamos” por ela. Continuamente somos tomados por sentimentos provocados por fatos que ocorrem em torno de nós.

Nos zangamos, ficamos alegres, entusiasmados, excitados, nos sentimos tristes, culpados, rejeitados, amados, etc. Essas emoções dependem,  além de outros fatores, do que está se passando ao nosso redor, isto é, não são apenas circunstanciais.

Cada um de nós, dependendo da história de vida, dá uma interpretação subjetiva aos fatos vividos. Porém, na maioria das vezes, agimos como se apenas os acontecimentos externos ou outras pessoas determinassem nossos sentimentos. Quem já não ouviu ou pronunciou coisas como: “Ele acabou com o meu dia” ou “Por causa dela, fiquei deprimido” ou ainda “Ela provocou esse ciúme.” etc.

Quando nos sentimos mal, temos a tendência de responsabilizar unicamente os outros, esquecendo a nossa parte na história. Nossos sentimentos são nossos e, embora as outras pessoas possam colaborar para que eles ocorram, eles se manifestam essencialmente em função da nossa percepção, sensibilidade, interpretação, e tudo isso está, em grande parte, associado a vivências antigas.

Por exemplo, pessoas cuja vida foi marcada pela “rejeição” tenderão a enxergar qualquer atitude do outro como um “descaso”. Nada mais saudável do que poder olhar para dentro de nós mesmos e “ouvir” o que se passa em nosso interior. Reconhecer, compreender e confrontar nossos desejos mais secretos e nossos sentimentos mais verdadeiros sem medo faz parte do processo de conhecimento.

No entanto,  há emoções que podem ser inaceitáveis para os que se encontram a nossa volta e, muitas vezes, são, lamentavelmente, até para nós mesmos.

Diante disso, um sentimento pode surgir e, por defesa, nos empenhamos em negá-lo, ignorá-lo, diminuí-lo ou invalidá-lo. Pode, inclusive, acontecer de uma emoção “se vestir” com as “roupas” de outra. Exemplificando: é comum o “gostar” revestir-se de medo, o riso esconder uma ansiedade, o choro por um motivo encobrir a tristeza por outro, o prazer se cobrir com culpa e mal-estar.

A desconsideração dos verdadeiros sentimentos e a negação dos próprios desejos transformam o indivíduo num ser dividido, triste e inexpressivo. Pior que isso é o fato de que esses sentimentos e desejos continuam a existir, mesmo quando não aceitos, provocando ansiedade, insatisfação, melancolia ou depressão.

Outra possibilidade, no entanto, é descarregar emoções sufocadas no corpo. Quando raiva, amor, alegria, excitação, tristeza são abafadas, podem “vazar” em forma de sintomas físicos (como exemplo disso podemos citar certas alergias; dor de garganta; dor de cabeça; gastrite, etc.).

Através do reconhecimento e expressão dos nossos desejos e das nossas emoções, podemos vivenciar o sabor da nossa existência e o equilíbrio emocional. Esse reconhecimento torna possível ser coerente com o que se é. E, sem dúvida, ser o que somos e assumir o que desejamos e o que sentimos constitui a experiência mais enriquecedora de nossa vida.

Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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