Freud se ocupou, desde 1909, da cura de uma criança de cinco anos (que, por sinal, aconteceu por meio do pai) atingida por uma neurose fóbica – “medo de cavalos”. Desde lá, o tratamento analítico com crianças vem sofrendo mudanças. Infelizmente, porém, muitos se afastaram do sentido dado ao sintoma, preocupando-se apenas com o real dele. O gênio de Freud foi distinguir que o problema surgido no garoto tinha a ver com o relacionamento entre os pais e com a relação do menino com cada um deles. Sua preocupação não foi com o medo, mas com aquilo que ele tinha por missão ocultar.
A mãe, por algumas dificuldades que estava enfrentando, agarrou-se ao filho como seu suporte. Faltou ao pequeno Hans o apoio do pai para sentir-se seguro em deixar a relação dual, na qual a mãe quis aprisioná-lo. O menino então desenvolveu uma fobia, para nela exprimir sua angústia. Isso significa que o problema da criança apareceu para encobrir a angústia materna. O filho, enfim, tornou-se o representante daquilo que os pais não puderam enfrentar entre eles. Não se tratava de se ater ao sintoma – “medo de cavalos” – mas do que isso representava: o fato do menino ter que enfrentar uma ordem de dificuldades não resolvida de seus pais.
O sintoma do filho não deve ser visto ou tratado como “do filho”, e sim como uma linguagem codificada, cujo sentido se esclarece a partir da estrutura familiar, pois é “sintoma dessa estrutura”. Ele vem no lugar de uma palavra que falta. O “medo de cavalos” apareceu no lugar de uma função paterna que se mostrava frágil, incapaz de interditar o vínculo do filho com a mãe. O pai de Hans foi incapaz de intervir nesse vínculo, impossibilitando que ocorresse um corte emocional no relacionamento intenso que se instalou entre o menino e sua mãe.
É por esse motivo que devemos ver o sintoma da criança como uma linguagem. Ele aparece como máscara ou palavra cifrada e se desenvolve na relação da criança com seus pais. Nenhum sintoma é criado pelo filho isoladamente. Por essa razão não devemos jamais isolá-lo, como se esse sintoma fosse consequência do menino apenas. Podemos ver o quanto a criança é o depositário de um drama que a ultrapassa.
O tratamento do filho por meio dos pais é uma possibilidade na psicanálise. É através do filho que os pais têm a oportunidade de repensar sua história de vida, questionando suas “reais” angústias e encontrando alívio para seu sofrimento e para o sofrimento de seu filho.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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