Muitas vezes ocorre de uma pessoa sentir um mal-estar interno, algo que não sabe definir, já que está no nível inconsciente. Até mesmo quando é consciente, ela tem dificuldade de aceitar esse sentimento.
Há momentos em que ela não se sente bem. Momentos em que, infelizmente, ela não se detém, porque pensar e avaliar faz sofrer, dói, e de dor ninguém gosta. O normal, portanto, é “descalçar o sapato que aperta”, “afastar o dedo da chama”, “livrar a alma da dor”.
É comum a pessoa usar o mecanismo de negação toda vez que ela se depara com uma situação difícil, delicada, dolorosa, ou quando se encontra em uma fase de crise. Uma das maneiras de fugir da dor é procurar situações alegres e incompatíveis com a tristeza, com a solidão e com o remoer da mágoa. Ou então a vontade que impera é não pensar em nada, não ver ninguém e até evitar um confronto pessoal.
De qualquer forma, cada pessoa é única, e cada uma tem sua maneira preferida de fugir das situações que lhe causam incômodo. Há aquelas que se trancam em casa, as que saem todos os dias, as que se afundam no trabalho, as que preferem falar sem parar e as que só se encontram no silêncio.
Por mais variados que sejam os mecanismos de fuga ou defesa, os objetivos são os mesmos – evitar “sentir”, pensar, avaliar, enfim, fugir do mal-estar. Porém, esses artifícios são inúteis, pois a pessoa não consegue se enganar por muito tempo. Por mais que ela se esconda atrás de disfarces, eles não anulam seu sofrimento. Este, é apenas empurrado para baixo, para o fundo dela mesma, onde há a ilusão de vê-lo desaparecer.
Entretanto, aquilo que não foi elaborado não desaparece, por mais bem escondido que esteja. Ninguém segue em frente com uma “ferida mal cicatrizada”. Empurrado para as zonas mais sombrias da mente, proibido de atuar abertamente, o sofrimento continua agindo, com possibilidade de acúmulo de tensões, explosões, angústias e até aparecimento de sintomas físicos.
Manter o sofrimento num canto, quieto, como um “domador que domina a fera com uma cadeira na mão”, não é a melhor solução. Em momentos de crise, esse procedimento pode anestesiar a dor, mas impede a compreensão dela.
Para compreender a dor, é necessário realizar um confronto que possibilite as descobertas do inconsciente. Essas descobertas permitem à pessoa integrar seus aspectos contraditórios; confrontar-se com seus desejos; olhar de frente para seus medos. Os momentos de angústia podem ser preciosos na medida em que tornem possível reavaliar a própria identidade, enxergar os próprios medos, acreditar no sentimento, abrir-se para si e para o outro.
Enfrentar a crise caminhando para o encontro consigo mesmo é uma maneira de promover o crescimento pessoal. Quando a pessoa faz da “dor” um momento de pausa e reflexão, pode criar uma estrutura mais forte para enfrentar a vida, sem que pareça estranha para si mesma, nos seus momentos de crise.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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