Sigmund Freud, no início de seus estudos, faz uma descrição dos “ataques de angústia,” o que hoje reconhecemos como as crises de pânico. Como dizia Jacques Lacan (psicanalista francês famoso por sua releitura de Freud), “a angustia é aquilo que não engana”.
E por que não engana? Simplesmente porque é impossível escondê-la. Ela mostra seus sinais na mente e manifesta-se também no corpo. Infelizmente, porém, o que mais se vê, no mundo em que vivemos, é a tentativa de amarrar a angústia com o excesso de remédios.
Defendo a ideia de que os ansiolíticos e os antidepressivos, por exemplo, deveriam ser usados apenas com indicação de um psiquiatra. No entanto, o que tem ocorrido, com frequência, é que eles passaram a ser receitados, com a maior desenvoltura, por médicos não especialistas.
Outro sério problema que observamos na clínica são os remédios tomados em regime de automedicação. Trata-se da idealização de uma solução vinda de fora para dentro.
Precisamos repensar o uso dos remédios, reservando-os para quando for estritamente necessário, na menor dose possível, e sempre com acompanhamento de um profissional da área.
Em alguns casos, os medicamentos, quando devidamente administrados, podem impedir a situação emocional de se agravar e conter uma crise. No entanto, em hipótese alguma, deveriam substituir um tratamento em que se leva em conta também os aspectos psicológicos.
Na verdade, o que preocupa é que eles podem tirar qualquer responsabilidade e envolvimento da pessoa com seu psiquismo. Alguns indivíduos chegam a pensar que não têm nada a ver com seu sintoma. Acreditam que sua depressão ou seu pânico é, unicamente, sinal de um desequilíbrio químico ocorrido em seu cérebro – e nada mais.
O que ocorre quando, a essa crença, soma-se o poder de sedução que os medicamentos têm aos olhos do paciente? Há quem não aceite sair do consultório sem uma receita. Se o médico recusa-se a prescrever um medicamento, muitas vezes, é visto como se estivesse recusando ajuda.
Outros profissionais, mais esclarecidos, quando ousam indicar a psicanálise paralelamente ao tratamento médico, observam o paciente saindo ofendido do consultório.
A meu ver, o medicamento, quando não usado adequadamente, pode agir como um tampão, que impede a pessoa de se confrontar com seus medos, desejos, emoções e sentimentos mais profundos.
A psicanálise, no entanto, é para quem questiona as soluções fáceis e duvida das saídas rápidas. É um tratamento para quem aceita que é impossível “medicar” problemas pessoais e conflitos emocionais. Enfim, é para os que acreditam que não dá para enganar a angústia. Porém, não há como fazer com que uma análise seja imposta contra a vontade da própria pessoa.
Sem o desejo de investigar o que o próprio sofrimento pode estar querendo dizer, não há tratamento possível.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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