Não fui eu…
Retificação subjetiva é quando o sujeito sai da posição de Adão – “não fui eu”, “não é minha culpa”, “coitadinho de mim” – e passa a se implicar na sua queixa. No livro “Lacan Elucidado”, Jacques-Alain Miller pontua que é “a passagem do fato de queixar-se dos outros para queixar-se de si mesmo. Há sempre razões para nos queixarmos dos outros. É um ponto efetivamente muito refinado a entrada daquele que diz ‘não é a minha culpa’. Inversamente, o ato analítico consiste em implicar o sujeito em seu queixume, em seu próprio motivo de queixar-se”. Miller alerta também para o erro de atribuir ao inconsciente “a responsabilidade pelo sofrimento de alguém”. A retificação subjetiva ocorre quando o sujeito em análise se dispõe a responder à clássica pergunta de Freud, feita pela primeira vez à Dora, uma de suas pacientes: “Qual é a sua responsabilidade na desordem da qual se queixa?”.
Clovis Pinto de Castro
Referência para aprofundar a leitura: Miller, Jacque-Alain. Lacan Elucidado, palestras no Brasil, Jorge Zahar Editora, 1999.