Logo nas duas primeiras semanas de vida da minha filha mais velha, quando trocou a noite pelo dia, percebi que estava diante de um desafio bem mais complexo do que havia imaginado – e sem qualquer ‘treinamento’ prévio. Foi um aprendizado no vácuo de estratégias preestabelecidas. Mesmo que tivesse acesso a manuais ou cartilhas sobre educação de filhas, não encontraria instruções seguras sobre os ‘procedimentos’ que precisam ser adotados para se obter o ‘certificado de qualidade’ na paternidade. Aprendi, ao longo dos anos, que ser pai não é alguma coisa que se aprende como se estivéssemos na linha de produção de uma fábrica de robôs. Como afirma Gilberto Dimenstein, “ser pai não é ato natural, mas um aprendizado permanente”.
Acalentava o desejo de criar com as minhas filhas uma relação baseada na confiança, no amor, no respeito, sem precisar recorrer a atitudes autoritárias ou a palavras que pudessem feri-las. Sonhava com um ambiente familiar sem a incômoda presença da sombra do medo. Almejava que pudessem dar conta da vida de forma “saudável”. Não consegui, pelo menos não no nível desejado. Cometi equívocos, mesmo quando a intenção era fazer o melhor por elas. Demorei pra perceber que os filhos e filhas também nos educam. Aprendi com elas que a autoridade de um pai se constrói na partilha do amor, no respeito mútuo, no reconhecimento dos limites e, principalmente, por meio de diálogos e manifestações de afeto. A presença pedagógica das minhas filhas me ajudou a lidar melhor com os meus sintomas. Como diz o meu amigo, Luiz Carlos Ramos, “que poder incrível tem certos bebês: o de transformar um homem em pai”.
Clovis Pinto de Castro