Em seu livro “Análise online na pandemia e depois”, Antonio Quinet sustenta que a análise em um ambiente virtual não pode ser vista como uma ‘gambiarra’, até porque “a experiência tem demonstrado que não se confina o Inconsciente” (…) O que eu faço, assim como muitos outros analistas, é psicanálise – digo isto por ter efeitos de análise, pois é possível o ato analítico na análise online” (…) o ato e a interpretação do analista dependem única e exclusivamente do analista e não do dispositivo, seja ele divã-poltrona, seja ele online (…) o espaço psíquico não se reduz ao espaço físico”.
São dois dispositivos que se sustentam em suas diferenças e aproximações. Não se trata de uma transposição do presencial para o virtual. É da ordem do novo. Exige teorização. Avaliá-los pelo viés de um gosto pessoal, dificuldades com a tecnologia, ou por uma visão maniqueísta – certo ou errado, adequado ou inadequado, bom ou ruim – pode ser uma cilada. Quinet propõe aos psicanalistas “considerar o atendimento online sob a égide da pesquisa e da experimentação, procurando descobrir novas modalidades de efetuação do ato psicanalítico”. Não há cartilhas prontas. Freud também não as tinha quando da criação da psicanálise.
A análise online não pode ser vista como segunda opção ou como produto de ‘segunda linha’. É um dos dispositivos disponíveis ao analista e ao analisando. A definição por um dos dispositivos será no caso a caso. O que não pode faltar – em qualquer um dos dois – é o rigor do método psicanalítico e a ética do desejo do analista.
Clovis Pinto de Castro