Freud descobriu que, quando sonhamos, surge um “estranho”, e nem sempre o reconhecemos como nós mesmos, no entanto, somos, sim, nós mesmos.
Como sabemos, os sonhos são a janela para olharmos nosso mundo interno. São a chave que une o consciente e o inconsciente, e eles têm um sentido. O sentido a que me refiro só pode ser encontrado através do trabalho de interpretação, o que deve levar em conta a palavra do paciente sobre seu sonho e suas associações com os vários elementos deste.
Nossos sonhos acessam a região inconsciente e fornecem informações sobre os pensamentos, os conflitos e os anseios reprimidos pela força consciente e da censura. Quando algum fato, pensamento ou alguma imagem do nosso mundo externo entra em conexão com nosso desejo adormecido, ele é estimulado e encontra oportunidade de se fazer representar na consciência em forma de sonhos.
Os sonhos registram as tensões e as frustrações geradas pela vida e exploram os recursos que nós desenvolvemos para lidar com elas.
Entretanto, nem sempre é fácil interpretar um sonho; é, na verdade, um desafio. Freud recorria constantemente a eles como um instrumento clínico. Ele os considerava a principal manifestação do inconsciente.
Devemos, portanto, valorizar nossos sonhos e o poder que eles têm de afetar nossas vidas, já que colocam à nossa disposição possibilidades que, muitas vezes, não percebemos quando estamos plenamente despertos.
Ao nos encontramos numa situação conflituosa, os sonhos podem nos mostrar uma luz. E, à medida que nossos desejos, nossos sentimentos e nossas emoções não se encontrarem mais ocultos de nós mesmos, poderemos nos confrontar com nossas verdades.
Dar importância aos nossos sonhos, lembrar-nos dele, refletir sobre eles e avaliá-los nos coloca em contato com nosso inconsciente. A interpretação de um desejo inconsciente (trabalho feito num tratamento psicanalítico), além de resgatar e reconstruir a história de vida do paciente, evita que a verdade desconhecida se transforme em angústia.
Os conteúdos do nosso mundo emocional (pensamentos, sentimentos e desejos) não são como objetos que podemos destruir ou fazer desaparecer quando nos incomodam. Pelo contrário, ao negá-los ou não querer olhar para eles, ficamos entregues ao sofrimento.
Os sonhos não ocorrem por acaso. Eles são fruto de um trabalho muito sério e profundo da nossa mente; um trabalho que não deve ser desperdiçado. Eles são o “espelho” para retratar nossa vida emocional. Portanto, olhando de frente para esse espelho, poderemos nos conhecer mais profundamente. E, nos conhecendo mais profundamente, teremos mais chances de nos realizarmos na vida, no trabalho e no amor.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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