No momento em que alguém pensa em procurar um psicanalista, surgem inúmeras fantasias sobre como funciona o trabalho desse profissional.
Na realidade, tudo o que é novo e pouco familiar gera angústia – o primeiro dia num emprego, o início de um curso, a visita a um país estrangeiro, o começo de um relacionamento etc. Então, por mais que a pessoa leia sobre esse assunto ou tenha acesso às experiências de conhecidos, quando se trata da própria vida, não é fácil evitar a ansiedade. Dessa forma, poderão ocorrer ideias a respeito de como será seu tratamento. Surgem os medos, os desejos e as esperanças.
Algumas expectativas são comuns à grande parte dos pacientes. Uma delas é imaginar o analista como um amigo legal e com “bom papo”, com o qual se poderá ter apenas uma conversa como outra qualquer. Outra, é a busca por uma mudança rápida e imediata, sem que o paciente tenha de falar, lutar, sofrer ou se esforçar. Essa expectativa diminui a responsabilidade que o indivíduo tem no processo, pois, esperando ter alguém que fale e pense por ele, não há necessidade de falar o que surge de forma espontânea em sua mente.
Submeter-se à psicanálise é algo muito diferente de ler um artigo ou fazer um curso sobre esse tema. Embora haja, através da discussão ou leitura de certos textos, a possibilidade de compreender e de ter uma visão mais clara dos processos psíquicos, não há mudanças possíveis, pelo menos, em um nível mais profundo. Se assim fosse, ninguém precisaria fazer tratamento, pois era só ler as obras de Sigmund Freud e tudo estaria resolvido.
Na análise, os caminhos não são teóricos, tampouco baseados em explicações lógicas – como muitos acreditam. As descobertas são feitas, gradativamente, nas sessões, em cima “da fala” do paciente. Em nenhum momento são oferecidos conselhos, explicações, sugestões ou receitas de vida. Se o analisando espera que o analista decida algo por ele ou indique um caminho a seguir, facilmente desiste.
Muitos indivíduos chegam ao consultório em busca de um amigo repleto de orientações, com um “saber intelectualizado” e pronto para ajudar. Essa expectativa faz parte da fantasia de onipotência dos pais, e se soma à necessidade de dependência de algumas pessoas, que buscam ajuda para resolver os conflitos que as aprisionam. Se o profissional encarna o papel de pai, mãe, professor ou mestre do saber, o tratamento fica inviabilizado, além de criar uma dependência (que é o oposto da autonomia buscada numa análise).
O processo é um caminho feito de buscas, descobertas e reencontro, o qual exige do paciente continuidade, perseverança e, principalmente, desejo de investigar o próprio inconsciente.
Muitos analisandos não suportam que o analista não seja como gostariam que fosse, justamente por terem se apegado a certas fantasias. Porém, os que insistem em continuar o percurso descobrem que a análise é algo muito mais profundo, verdadeiro e arriscado do que haviam imaginado.
Enfim, é um caminho possível para se atingir o inconsciente e provocar mudanças na vida das pessoas que se propõem a seguir em frente.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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