De época em época, surge um remédio novo que propõe aliviar a dor de existir e promover a felicidade.

São muitas as pessoas que, para se livrarem do seu mal-estar, vão em busca de substâncias estimulantes, sedativas, inebriantes ou calmantes. Se estas podem “adoçar a vida” ou torná-la menos amarga, pensam, porque não usá-las?

Infelizmente, não são poucos os que preferem se refugiar nessa forma de ilusão.

Nos últimos tempos, os remédios, antes vistos com preconceito, passaram a ser olhados como solução para todos os problemas da existência.

Há, por exemplo, uma coleção de propagandas de ansiolíticos. Os laboratórios esforçam-se para criar o mito de que eles são a solução para todos os sintomas.

Na verdade, em alguns casos, a medicação pode ser eficaz e se constituir numa ponte temporária para o início de um tratamento ou estratégia para sua continuidade.

No entanto, por se constituírem num recurso rápido, muitos idealizam os remédios e acabam acomodando-se a eles.

O grande perigo é que, embora atenuem a ansiedade, mascaram os conflitos internos que estão vindo à tona, pedindo para serem escutados.

Não se trata de condenar seu uso, mas denunciar o abuso indiscriminado que vem ocorrendo em nossos tempos.

No mundo imediatista em que vivemos, onde o que mais falta é “paciência”, a cultura da automedicação e dos remédios por indicação mobilizam o sujeito a usar qualquer tipo de psicofármaco para fugir da tristeza, insônia, depressão, ansiedade ou angústia.

O que fazer se a maioria das pessoas tem pressa e não aguenta esperar? O que pode ocorrer quando as questões existenciais são eliminadas apenas porque incomodam?

Penso que, dessa forma, abafa-se um “grito de socorro”. É isso o que acontece quando os aspectos psicológicos não são levados em consideração, ou pior, são completamente ignorados.

Por outro lado, nem todos os que se dirigem ao psicanalista, por não escolherem o remédio como único caminho, sabem o que querem.

Por esse motivo, é muito importante que o profissional questione a demanda inicial. O que o paciente quer dele? O que, no fundo, está procurando? Um amigo, pai, pastor, mestre, confidente, conselheiro ou simplesmente alguém para “bater um papo”? Será que ele realmente quer saber sobre si, mexer nos seus conteúdos internos, conhecer seu inconsciente?

A psicanálise não oferece, como muitos pensam, resposta pronta, conselho, apoio ou explicação teórica para o sofrimento humano. Ela não trata o sintoma, mas o “sujeito” que tem aquele sintoma. Por exemplo, não levamos em conta a depressão, mas a pessoa que está deprimida.

A proposta que o tratamento faz vai além do alívio trazido pelo remédio. Este, quando usado em excesso, faz “calar a angústia”.

Já a psicanálise propõe justamente o contrário, ela faz falar. E, falando, é possível construir um saber sobre o que lhe é desconhecido (inconsciente) e que lhe faz sofrer.

Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.

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