Imagem é uma espécie de “retrato projetado”, geralmente melhor que o original; é um tipo de fachada fabricada para se oferecer aos outros. Essa imagem pretende, em princípio, aparentar uma pessoa diferente do que se é. Funciona como um espelho distorcido, que necessita do “eu” para existir, mas que não lhe é fiel, pois valoriza o que ele tem de melhor, escamoteando aquilo que não é tão apreciável. Mostra o que supõe que os outros esperam.
Muitas pessoas alimentam essa fantasia, sua dedicação é absoluta, seus gestos encaixam-se dentro de algo criado para agradar o outro. Deixam de se vestir, de se comportar e até de dizer coisas que acreditam não combinar com sua imagem. No fim, acabam se sentindo desvinculadas delas próprias, como se seu “eu” interior não existisse.
Seja qual for a forma de convivência com esse ideal construído, ele é bastante perigoso, pois, a partir do momento em que se instala, torna-se mais ativo do que a verdadeira personalidade. Embora comandada pelos impulsos mais profundos do seu ser, a tendência é acabar com ele enquanto individualidade. Este, sufocado, negado, pode concordar com o jogo e deixar cada vez mais espaço para a atuação, até praticamente apagar-se.
Viver uma imagem significa, na verdade, manter um jogo com os outros, consigo mesmo e com a vida. Quem vive uma imagem tem sempre medo de não corresponder à expectativa dos outros, e teme ser desmascarado. Representar, porém, é um mecanismo que desgasta e frustra.
Viver no “faz de conta” significa fundamentalmente renunciar àquilo que há de mais verdadeiro, e isso só acontece quando não se gosta o suficiente de si mesmo, quando se está insatisfeito com o que se é.
Há pessoas que exageram ao viver o papel de seu “personagem favorito”. Suas reações se tornam muito mais voltadas para aquilo que os outros estão esperando delas – na medida em que procuram dentro de si algo que possa servir como verdade–, do que para sua própria verdade.
No entanto, a maior riqueza de uma pessoa é constituída por sua individualidade, seja ela qual for. Muitas vezes é necessário um tratamento psicanalítico para saber quem ela é, descobrir sua identidade, localizar onde estão seus medos, quais são suas inseguranças e seus conflitos.
É exatamente para minimizar os medos e inseguranças que muitos indivíduos criam disfarces que fazem com que eles se afastem de si mesmos. Conhecendo o seu próprio inconsciente e suas defesas, bem como elas se estabeleceram, é possível compreender-se melhor, aceitar-se como se é ou, então, “modificar” o que causa incômodo. Dessa forma, pode-se encontrar consigo mesmo em sua verdadeira essência.
Edázima Aidar é psicanalista pela Sociedade Campinense de Psicanálise.
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