“Olhei até ficar cansado De ver os meus olhos no espelho Chorei por ter despedaçado As flores que estão no canteiro.” A canção “Flores”, da banda Titãs, toca em uma questão fundamental para a psicanálise: a finitude humana. Trata-se de uma morte simbólica. Alguns a interpretaram como sendo a narrativa de um suicídio. E, nesse …
“Via de regra enfatizamos a natureza casual da morte, um acidente, uma doença, infecção ou idade avançada, e desse modo traímos o nosso empenho em vê-la como algo fortuito, em vez de necessário. Um grande número de mortes nos parece terrível ao extremo” (…) “Não é mais possível negar a morte; temos de crer nela. …
A frase “eu acredito na ciência” se tornou uma das mais populares nas redes sociais. É uma forma (in)direta de dizer: “não sou terraplanista, obscuro, ignorante”. Sigmund Freud acreditava na ciência. Preocupou-se em dar à psicanálise um status científico. Entendia a ciência como única resposta possível frente a qualquer forma de obscurantismo. Se estivesse no …
Amar é estar disponível ao encontro dos vazios. Não há completude que dê conta. Numa relação amorosa corre-se o risco de querer tamponar o vazio do outro, de manter um vínculo de afeto na ordem da completude ou de se colocar como objeto do desejo do outro. Amar requer o saber-se incompleto. Na esfera da …
O corpo que ganha expressão na clínica psicanalítica não é o corpo biológico. Desse, a medicina cuida, prescreve, dá receitas. A psicanálise lida com um outro corpo: subjetivo, singular, linguageiro. Corpo desejo, erógeno, tomado pela libido, pelo gozo. Para Lacan, nascemos como se fossemos um “pedaço de bife com olhos”. É no processo de inserção …
Costumo coletar pedras como recordação de lugares que visito no Brasil e em outros países. Pequenas pedras jogadas nas ruas, praças ou terrenos próximos aos locais visitados. Não têm qualquer valor econômico. São da ordem dos valores afetivos e simbólicos. Uma delas, trouxe da Robben Island, onde Nelson Mandela passou 18 dos 27 anos em …
“Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça especial que tantas vezes acontece aos que lidam com arte. O estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se …
O humor é uma das formas de enfrentamento do Real, do mal-estar da civilização. Freud escreveu dois textos sobre o tema: “O chiste e sua relação com o inconsciente” [1905] e “O humor” [1927]. No primeiro, coloca o chiste como uma das formações do inconsciente. Mostra suas implicações ademais da questão cômica. No segundo, estabelece …
Do mal(dito) ao bem(dito) Recentemente, ao dar uma entrevista ao programa “Benção da Manhã”, da Tv Aparecida, lembrei-me do livro “Lacan Elucidado”, de Jacques-Alain Miller, quando diz: “Na análise não se dá bençãos, ‘ensina-se’ a dizer bem aquilo de que se fala, aprende-se um bem-dizer”. As bênçãos sempre estiveram presentes em diferentes culturas e expressões …
Não fui eu… Retificação subjetiva é quando o sujeito sai da posição de Adão – “não fui eu”, “não é minha culpa”, “coitadinho de mim” – e passa a se implicar na sua queixa. No livro “Lacan Elucidado”, Jacques-Alain Miller pontua que é “a passagem do fato de queixar-se dos outros para queixar-se de si …
Não é fácil virar santo ou santa. Há processos rigorosos que precisam ser vencidos em diferentes níveis e etapas. Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres, percorreu esse caminho. Entre os requisitos, eram exigidos dois milagres ─ daqueles que a ciência não explica. O psicanalista Marcelo Veras, ao falar sobre a canonização da irmã Dulce …
Educar sempre foi uma tarefa exigente. Para o psicanalista Jacques Lacan, “as pessoas não percebem muito bem o que querem quando educam e são tomadas pela angústia quando pensam no que consiste ensinar”[1]. Quem lida com a educação corporativa também enfrenta esse dilema, especialmente quando ela se restringe aos manuais prescritivos, às metodologias engessadas ou …